segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Exausta.

O problema são essas tardes de novembro tão insuportavelmente escaldantes que os só os pensamentos das tarefas diárias já são o suficiente para fazer doer os músculos, transpirar, cansar e desanimar...




Talvez o problema não seja só as tardes de novembro. 
E talvez não sejam só pensamentos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Às vezes me encontro em outros corpos.
E às vezes, me reconheço em outros textos:



Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

(Álvaro de Campos)



Não escrevo com a mesma habilidade do grande poeta, mas estou ali; o atual momento em que vivo está ali, desenhado em cada verso de seu poema. E é a partir daí que me reconheço nesse heterônimo de Fernando Pessoa, ou em qualquer outro escritor, pois dividimos a mesma história e nos tornamos parte de uma mesma coisa. É neste ponto que está a beleza de ler e de ser lido.